BIVAR É EXCLUÍDO DA PROGRAMAÇÃO DE EVENTO CONSERVADOR TRAZIDO AO BRASIL POR EDUARDO BOLSONARO
Organizado nos Estados Unidos desde 1973, o CPAC vai ser realizado nesta sexta-feira e sábado em São Paulo com nomes do conservadorismo brasileiro e americano
“Após décadas de escuridão, um novo facho de luz atinge terras brasileiras.” Assim é apresentada ao público a Conferência de Ação Política Conservadora, o CPAC Brasil. Organizada nos Estados Unidos desde 1973 e agora trazida ao Brasil por Eduardo Bolsonaro, a versão brasileira do maior evento conservador do mundo vai ser realizada nesta sexta-feira e neste sábado em São Paulo. A promessa é clara: pensar e debater o conservadorismo em um país onde “as principais esferas socioculturais se mostram dominadas pela esquerda”.
A organização é feita pela American Conservative Union (ACU), a fundadora do CPAC americano, em parceria com a Fundação Índigo, ligada ao PSL, partido de Bolsonaro. Os americanos estão colaborando com o conhecimento e a experiência na realização do evento.
“Seguimos um padrão americano, com algumas peculiaridades brasileiras. No geral, a forma é a mesma”, afirmaram os organizadores da Fundação Índigo. Além das palestras, o evento terá estandes com produtos voltados para o público, como livros de direita e camisetas temáticas.
A escolha dos astros do evento reflete as próprias relações exteriores do governo de Jair Bolsonaro. O destaque é para o país de Donald Trump. Todos os conferencistas estrangeiros são americanos, vindos ao Brasil para “celebrar a nova aliança política e social dos dois países neste novo tempo”, como os próprios organizadores descrevem. Figurinhas carimbadas do CPAC americano, algumas com passagens pelo governo Trump.
“A presença [dos conferencistas americanos] decorre da participação da ACU na organização. Diversos palestrantes americanos abriram mão de cachê e vieram gratuitamente, com o objetivo de ajudar a divulgar o pensamento conservador no Brasil”, informou a organização do evento, em nota.
Além do próprio presidente da República, que deve abrir a conferência, vão palestrar os ministros Abraham Weintraub, da Educação e Damares Alves, dos Direitos Humanos, o filho Eduardo, o assessor para assuntos internacionais, Filipe Martins, e outros.
A dois dias da estreia, porém, o CPAC Brasil teve uma baixa. O presidente do PSL, Luciano Bivar, estava confirmado até a última quarta-feira, mas foi apagado da programação. Foi nesta semana que os atritos entre ele e Jair Bolsonaro chegaram a seu auge, levando a um quase rompimento entre os dois. Os organizadores do CPAC justificaram “questões de agenda” para o cancelamento.
As palestras vão seguir a cartilha bolsonarista de confronto a uma suposta hegemonia de esquerda nos meios culturais, sociais e políticos do Brasil. Araújo, por exemplo, vai discursar sobre o “fim da política de viés socialista” no país. O youtuber Bernardo Küster, sobre a religião como a “última barreira contra a dominação comunista”. E “Como conservadores podem se defender da manipulação da mídia pró-esquerda” será o tema da palestra do americano Charles R. Gerow.
Rafael Nogueira, professor mais conhecido pelos documentários do estúdio Brasil Paralelo, afirmou que sua palestra vai fazer um apanhado da história do conservadorismo no Brasil, da “luta anticomunista de 1964 até a eleição de Jair Bolsonaro”.
“A gente já está falando há muito tempo o que é conservadorismo. Está na hora de começar a entender algumas coisas”, disse ele. “Primeiro, entender o que não é conservadorismo. Não é machismo, fascismo, racismo, nazismo. Conservadorismo é uma maneira de encarar a vida, e, portanto, a política, de forma a querer resgatar a experiência e a sabedoria do passado. Assim, cultivar melhor os valores, as virtudes, as instituições e os governos para um futuro melhor.”
A conferência americana
Nos Estados Unidos, o CPAC é um evento bastante aguardado, principalmente pela direita mais radical. Os nomes do Partido Republicano mais frequentes no encontro são justamente os mais extremados, aqueles que ganharam força com o governo de Donald Trump — que participou de várias edições. Muitos líderes de direita da Europa também participam do evento.
Realizado em grandes hotéis na Grande Washington, o CPAC une palestras e debates a uma feira de negócios conservadores. ONGs e empresas de direita fazem exposição de produtos como jogos contra o esquerdismo, camisetas “a favor do CO2”, bottons contra o feminismo e de movimentos a favor da liberdade e das armas. Esses estandes ajudam a pagar a organização do evento, que vende ingressos e anúncios, além de receber doações.
Para a edição de 2020 do evento americano, que ocorrerá de 26 a 29 de fevereiro, a organização do evento está vendendo um ingresso VIP a US$ 5.750 (R$ 23.800) que dá direito a acesso privilegiado, participação em coquetéis e jantares, além de acesso prioritário aos locais das palestras.
Nos anos anteriores, a questão das armas foi um dos pontos centrais no CPAC. Com o aumento de chacinas, a opinião pública americana passou a majoritariamente apoiar algumas restrições, o que fez a poderosa Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla em inglês) a ocupar cada vez mais o evento, afirmando que não defende as armas, mas a liberdade do povo americano.
Fonte: Época