Setor carbonífero se prepara para as mudanças da Transição Energética
Uma cidade de quase quatro mil moradores onde a economia gira em torno da extração do carvão. A riqueza das terras de Treviso fez com que quatro carboníferas se instalassem no município. Hoje, duas mantém a atividade que gera cerca de 70% da receita da cidade.
Valério Moretti, que foi prefeito de Treviso nos últimos anos, conta que a história de desenvolvimento do município está diretamente ligada ao setor carbonífero.
“É o que sustenta não só Treviso, sustenta uma região como um todo. Nós temos aqui só na carbonífera Metropolitana 800 empregos diretos, pra quem tem um município de quatro mil habitantes é bastante coisa, mas claro que não são todos moradores de Treviso, mas de toda região. Treviso é histórico no segmento do carvão”, explica Moretti.
Valério também integra a Amrec, Associação dos Municípios da Região Carbonífera, juntamente com outras 11 cidades do Sul de Santa Catarina. Juntos os gestores desses municípios somam esforços para ver a cadeia produtiva do carvão não ser extinta.
“Para os derivados de carvão existem vários projetos importantes aqui no município de Treviso, esses derivados do carvão podem dar oportunidade e emprego para essas pessoas que precisam e dependem da mineração. Por isso, quero crer que estes projetos, no futuro, de derivados do carvão vão dar certo para continuar tendo emprego e renda”, analisa Moretti.
São pesquisas e projetos que envolvem, também, a captura de CO2. Mesmo que as emissões de dióxido de carbono das usinas a carvão representem somente 0,27% das emissões brasileiras, o setor busca soluções.
Em Criciúma, são as próprias cinzas de carvão que estão sendo usadas para realizar a captura o gás. Os estudos já mostram bons resultados e apontam uma reinvenção da indústria do carvão. O que pode ajudar a manter uma cadeia produtiva que representa 30% na economia de 15 municípios do sul catarinense, girando R$ 6 bilhões por ano.
No sul de Santa Catarina habitam mais de 600 mil pessoas e cerca de 21 mil trabalham direta e indiretamente no setor carbonífero. Na cidade de Capivari de Baixo a termelétrica Jorge Lacerda é o complexo que recebe o carvão extraído das minas da região e, também, a empresa que mais movimenta o município que tem pouco mais de 25 mil habitantes.
O chefe de gabinete da prefeitura vê como fundamental a presença da termoelétrica na cidade. “Boa parte da receita do município vem da produção de energia elétrica. Há uma preocupação muito grande com essa questão porque hoje sem a indústria do carvão a gente vai ter diversos problemas de ordem social aqui na região, mas especificamente em Capivari de Baixo”, destaca Edvan Borba.
A lei 576/2021 aprovada recentemente no Congresso, que aguarda a sansão do presidente da República, trouxe expectativa de ver as mudanças aconteceram no processo de transição energética de forma mais justa.
“A gente espera, realmente, que o presidente Lula sancione essa lei 576/2021 e que possa incluir nesse pacote as termoelétricas para que a gente possa levar isso até 2050, hoje, o planejamento está até 2040, mas se tratando de uma usina e de grandes investimentos é muito pouco o prazo para que alguém tenha a tranquilidade e continue produzindo e investindo nessa plataforma”, afirma Borba.
A cadeia produtiva do carvão não envolve somente a extração feita pelas mineradoras e o complexo que recebe o mineral. São serviços de fornecedores, industrias de subprodutos, incorporadora de cimento e uma ferrovia que passa por 14 cidades que integram o segmento. O presidente da Acic – Associação Empresarial de Criciúma – lembra que são pessoas e atividades envolvidas que precisam ser vistas nessa transformação.
“O foco são as pessoas, o foco é o emprego e a renda. Através dessas leis nós vamos no mínimo até 2040, mas imagina se nós fossemos parar hoje. Nós temos reserva e todas as condições de continuar produzindo, temos condições de baixa emissões. É um tempo para nos readequarmos, para trabalhar de forma diferente”, destaca Valcir Zanette.
De olho no futuro, onde as condições climáticas estão cada vez mais adversas, os setores buscam estratégias inovadoras. Pensando em atender esse compromisso com a descarbonização, mas sem impactar bruscamente naqueles que historicamente estão envolvidos na cadeia produtiva do carvão.
Um olhar sob novas oportunidades de crescimento para que a transição energética seja de fato, justa para todos. “Todos esses projetos vão manter empregos, renda, movimentação econômica e financeira. Vai atender a sociedade como um todo. Se o carvão continuar, nós vamos ter o carvão e mais outros negócios. É nessa direção que estamos trabalhando”, finaliza Zanette.